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18 julho 2008

Entrevista: perguntas sobre acessibilidade na web

Em março dei uma entrevista para a Revista Comunicação 360º respondendo algumas perguntas sobre acessibilidade na web. Pra dizer a verdade não sei nem se chegou a ser publicada na revista em papel, pois não recebi nenhum feedback deles. Mas em julho eles publicaram a "entrevista" no site da Nós da Comunicação e recebi um e-mail avisando.

Como pelo menos no site a entrevista ficou muito descaracterizada, resolvi publicar minhas respostas, até aproveitando para tirar a poeira mensal do meu blog.
Não são verdades absolutas, até porque não existem tais verdades. É minha opinião e outros pontos de vista são muito bem-vindos.

Tirando a pergunta 6, todas as outras respostas estão idênticas a entrevista em março.

1) Em seu site, há a afirmação de que as empresas que possuem um site acessível têm uma visão estratégica. Por quê?

Aumentar a visibilidade de um site frente aos sistemas de busca como o Google e Yahoo, por exemplo, já é bem estratégico, não acha?

Alguns chamam o Google - inclusive eu – de bilionário cego. Isso porque ele é um robô que só indexa texto e não enxerga imagens, animações, vídeos. Deste modo, quanto mais acessível e semântico for um documento HTML, maior será a sua exposição a essas tecnologias.

Se uma empresa almeja se aproximar de 100% de seu público-alvo, um bom caminho é tornar seu site acessível.

2) Por que uma empresa optaria por fazer um investimento em acessibilidade? Qual o custo? Há um bom retorno? Como convencer os empresários? Há algum estudo comprovando as vantagens? A demora e o custo compensam?

Encaro o custo da acessibilidade como um grande investimento, afinal, só com acessibilidade pode-se oferecer ao usuário uma "experiência perfeita". Ou seja, oferecer uma interface acessível a todas as pessoas independente de suas experiências e habilidades, ser fácil de usar e aprender e oferecer portabilidade para qualquer dispositivo, ambiente e software.

Claro, é mais rápido e fácil fazer um site inacessível. É também verdade que um programador levará mais tempo construindo sites e sistemas acessíveis. Mas a boa notícia é que com experiência os desenvolvedores ganham produtividade e esse tempo diminui.

A acessibilidade na web é ainda mais recente que a própria internet. Também por isso, não existem pesquisas ou estudos que comprovem o seu retorno sobre o investimento, pelo menos disponíveis na web. Esse tipo de pesquisa ainda está muito restrito a academia e a poucas empresas de consultoria, que escondem seus estudos de caso a sete chaves, exatamente como aconteceu com a usabilidade.

Mas apesar disso, temos a disposição diversos livros e artigos, alguns em português – grande parte listada no próprio site da Acesso Digital - que descrevem os benefícios do desenvolvimento de projetos com acessibilidade, como, por exemplo:

- Manutenção mais rápida e barata.
- Melhor performance e diminuição com custos de banda.
- Fidelização de clientes, através de interfaces acessíveis, mais fáceis de usar e aprender.
- Conformidade com o decreto de lei 5296 de 02/12/2004 (lei que obriga que sites de administração pública sejam acessíveis).
- Atendimento aos novos consumidores da inclusão digital e sistema de cotas.
- Valorização da Diversidade e Responsabilidade Social;
- Maior visibilidade do seu negócio e produtos pelos sistemas de busca.
- Diferencial competitivo e melhoria dos Serviços.
- Crescente demanda de usuários com dispositivos móveis.
- Visão empreendedora.
- E como já mencionado, atingir 100% do seu público-alvo.

Em 2005 participei de um projeto de remodelagem de um site/sistema onde aplicamos as diretrizes de acessibilidade, assim como os padrões web (web standards). O objetivo basicamente era melhorar a performance do sistema. Tivemos um excelente resultado e desse trabalho, escrevi o artigo com título: "melhorando o desempenho e a acessibilidade".

Conceber um site/sistema inacessível é como desenvolver um projeto sem planejamento, ele pode até ficar pronto mais rápido e dentro do cronograma acordado com o cliente, mas a que preço?
Quanto custa para uma empresa perder um cliente porque ele não encontrou o que procurava ou porque não conseguiu realizar uma tarefa em seu site? Talvez porque o site não tenha funcionado em seu dispositivo móvel ou navegador preferido, ou ainda, porque não conseguiu imprimir ou capturar a informação que desejava?
Qual é o custo da insatisfação do cliente e quanto custa refazer todo um projeto depois de pronto?

Pois é, como esperam que um site funcione se ele não foi concebido sobre a ótica e experiência de seu público-alvo e muito menos testado e validado por eles? Infelizmente para muitas empresas e agências, o que mais interessa em um projeto web, é se ele está "bonitinho" e ainda tratam o design como uma obra de arte.

Design não é arte e deve fazer a ponte entre três variáveis: pessoas, produto e um contexto.

3) Qual a melhor definição de 'acessibilidade'?
Qual a história do uso de acessibilidade no mundo real e no mundo digital?


Existem diversas definições de acessibilidade na web, não sei ao certo qual é a melhor, mas para nós da Acesso Digital, acessibilidade na web é: "uma internet verdadeiramente inclusiva e com mais oportunidades de acessos e negócios para todos".

Não sou a melhor pessoa para responder essa pergunta, pois só conheci a palavra acessibilidade em 2001, quando me deparei com edital de um sistema em ambiente web que deveria ter acessibilidade.

Mas o que posso dizer, é que assim como no mundo real, a história acessibilidade no mundo digital é feita com muita dificuldade e luta. O maior inimigo da acessibilidade ainda é a ignorância. Isto é, a completa falta de conhecimento sobre o tema na maior parte das empresas, profissionais da área e clientes.

Para ajudar a mudar um pouco esse quadro, nós fizemos um vídeo educativo de 11 minutos com objetivo de resumir a idéia do seja a acessibilidade na web. Nele demonstramos na prática como é a navegação pela internet, utilizando leitores de tela, em sites acessíveis e não acessíveis.

Vídeo – Acessibilidade na Web: Custo ou Benefício?
O vídeo pode ser baixado em diferentes formatos no site da Acesso Digital.

O ser assistido diretamente pela web no Videolog.

O vídeo teve uma ótima aceitação pela comunidade e está sendo replicado tanto pela academia quanto pelas empresas.

4) A acessibilidade na web é direcionada para quais tipos de deficientes, além dos visuais? Como medir o número de usuários?

Esse é um grande problema, pois muita gente acredita que acessibilidade na web é apenas para pessoas com deficiências visuais. Muito por culpa da nossa silente lei nº 5296, que obriga - desde dois de dezembro de 2005 - que todos os portais e sites de administração pública disponibilizem seus conteúdos com acessibilidade para pessoas com deficiência visual.

Tudo bem, essas pessoas são as que mais precisam, pois elas ficam simplesmente impedidas de usar um determinado site ou serviço, se ele apresentar grandes barreiras de acessibilidade, mas assim como a deficiência visual, todas as outras precisam muito da acessibilidade. Afinal, como o governo espera, por exemplo, que pessoas com deficiência motora consigam acessar os serviços de administração pública?

A pessoa com deficiência motora também precisa muito da acessibilidade, assim as com deficiência auditiva, mental, cognitiva, enfim, todas as deficiências.

E não são apenas as pessoas com algum tipo de deficiência que precisam. É exatamente esse o caso dos usuários de dispositivos móveis com acesso à internet, perfil em grande expansão, eles precisam de acessibilidade.

E se pensarmos bem, todos nós, principalmente nas primeiras vezes que formos usar um determinado site ou serviço, precisamos de uma boa acessibilidade.

5) Qual é a diferença entre acessibilidade e usabilidade? Como a aplicação conjunta delas contribui para uma inclusão efetiva?

Apesar de serem coisas diferentes, para mim são como irmãs siamesas, não dá para imaginar um site com acessibilidade, mas difícil de usar e vice e versa.

De que adianta ter um site acessível ou acessável, como diria o amigo MAQ do BengalaLegal.com e Acessibilidadelegal.com, mas que quando utilizado por uma pessoa com deficiência visual ou motora, ou mesmo por um usuário de dispositivo móvel, é necessário passar por dezenas de links para enfim chegar ao sistema de busca de um site?
Está "acessável", mas sua navegação não tem nenhum tipo de otimização para facilitar a experiência desses usuários. Ou ainda, um determinado sistema que está, digamos assim, sem barreiras técnicas de acessibilidade, mas que é tão difícil de entender e usar, que quase ninguém consegue utilizá-lo.

Da mesma forma, um sistema com boa usabilidade, ou seja, fácil de usar, pode não ter serventia se não funcionar sob uma determinada tecnologia. Ou apresentar barreiras de acessibilidade significativas em determinados contextos.

Acessibilidade de verdade não existe se não estiver acompanhada de uma boa usabilidade.

6) Por favor, cite exemplos de sites que são modelos de acessibilidade, cases, histórias interessantes...

Infelizmente vou ficar devendo essas indicações, isto porque para a nós da Acesso Digital, acessibilidade de verdade não é apenas a aplicação das técnicas de acessibilidade web e a validação com aplicação de um “selo” qualquer de um avaliador automático.
Acessibilidade de verdade é a soma da acessibilidade (aplicação diretrizes, técnicas, testes com diferentes usuários e contextos) + web standards (validação dos padrões web, padronização e portabilidade) + usabilidade (facilidade de uso com foco na experiência do usuário), com o uso de uma metodologia que vai além da acessibilidade, pois leva em conta o contexto social.

E dentro desse perfil acima, nenhuma dos sites que conhecemos atende esses três itens com qualidade ao mesmo tempo.

Mas a boa notícia é que novos portais e sites estão sendo lançados nessa direção, então é só aguardar um pouco mais.

4 comentários:

Sik Sikorski disse...

Muito legal o artigo/entrevista. Acredito que com um esforço constante, juntos, vamos aos poucos mudando a cabeça das agências e dos clientes que só pensam no custo final e na beleza do projeto.
Valeu

Horácio Pastor Soares disse...

Oba Sik, fico feliz que tenha gostado... Pois é rapaz, mudar a cultura das pessoas e empresas é sempre um processo lento e precisamos ter longo fôlego.
Se quiser ajudar e participar de boas conversas sobre acessibilidade, participe da nossa lista de discussão sobre acessibilidade, é bem legal. Valeu!

Unknown disse...

Olá, Horácio e leitores do blog.

Sou Ademir, responsável pela matéria sobre acessibilidade, que recomendo aos interessados no assunto
http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panorama=37&tipo=R
É bom saber que você conhece a revista Comunicação 360°, vencedora do último Prêmio Aberje Nacional. Mas, conforme é possível conferir no trecho do e-mail reproduzido abaixo, deixei claro que a entrevista seria para o Nós da Comunicação e não para a revista, também veiculada no portal.

"Olá, professor Horácio. Sou Ademir, repórter da agência Casa do Cliente Comunicação 360°. Estamos desenvolvendo um portal que se chama 'Nós da Comunicação' e nos esforçamos para que o portal esteja acessível desde o lançamento. Inclusive, gostaria de fazer uma breve entrevista com o senhor para esclarecermos o tema 'acessibilidade' para os usuários."

Todas as informações contidas no texto provêm da nossa entrevista, que, entretanto, não se tratava de um perfil: foi feita para uma reportagem sobre acessibilidade, contando inclusive com outro consultor. Todas as informações podem ser conferidas na íntegra da entrevista, utilizada agora, como você bem explica, "para tirar a poeira mensal" de seu blog.

Lamento que você não tenha reportado suas impressões diretamente a mim, que mantive um canal de comunicação aberto com você. Conversamos por telefone algumas vezes e trocamos e-mails.

De qualquer forma, continuo a acreditar que o foco da matéria é o tema, a acessibilidade, que realmente precisa de visibilidade para ser comentado e discutido.

Horácio Pastor Soares disse...

Olá Ademir,

Agradeço seu comentário no meu empoeirado blog, você com certeza ajudou a aumentar em pelo menos 25% a sua audiência.

Brincadeiras a parte, meu objetivo não era atropelar ninguém, mas acredito que o mal entendido tenha ocorrido em função de problemas de comunicação de ambas as partes. Quando me mandou o e-mail reproduzido a seguir, entendi duas coisas: que não iria publicar nada antes de me mostrar a matéria, e que provavelmente ela seria publicada na revista, afinal, pra que precisaria de uma foto com mínimo de 300DPI de resolução? Na internet não utilizamos mais de 72dpi.

"Tudo bem, Horácio?
Logo que for editada, enviarei o texto sobre acessibilidade para sua aprovação. Antes disso, você pode disponibilizar fotos suas p/ilustrar a matéria, por gentileza?
É preciso que tenham qualidade mínima de 300 dpi, em TIFF ou JPEG e que seja colorida, ok? Desde já agradeço sua colaboração."


Você tem toda razão quando fala que em nenhum momento disse que seria publicada na revista, mas como a matéria demorou muito para ser publicada, ela está com um formato bem diferente de uma entrevista com perguntas e respostas e você havia pedido uma foto em alta resolução, deduzi erroneamente que poderia ter sido publicada na revista anteriormente.

Enfim, não queria gerar mais mal-entendidos, apenas divulgar todas as perguntas e respostas sobre acessibilidade na web no formato original.

Abraços acessíveis (direitos autorais para o MAQ)

 
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