Cinco princípios de design que deveriam ser mandamentos…
Achei tão fantástico os 5 princípios do design (Five Principles to Design) de Joshua Porter, que ao invés de princípios, eles deveriam ser mandamentos.
Transcrevo abaixo uma tosca tentativa de tradução/resumo para o português:
- A tecnologia deve servir aos homens e não os homens que devem servir as tecnologias
As pessoas não devem achar que fracassaram ao usar uma determinada tecnologia. É uma falha da interface e não do usuário. Assim como os clientes, os usuários sempre têm razão... - Design não é arte!
A arte é um expressão pessoal, um ponto de vista. É sobre a vida, as emoções, os pensamentos e idéias de um determinado artista.
Na outra mão, design é para ser usado. O designer precisa que alguém use (não apenas admire) as interfaces que desenvolve. O design não tem nenhum propósito se não for para as pessoas usarem.
Quando uma arte é apreciada, as pessoas falam “eu gostei daquilo”. Quando gostam de um design, eles dizem “aquilo funciona bem”. Isso não é por acidente. Bom design é quando alguma coisa funciona bem. - A experiência pertence ao usuário.
Os designer não criam experiências, eles criam artefatos para a experiência. Esta simples distinção faz toda a diferença, ela coloca o designer a serviço do usuário, e não o usuário a serviço do designer. - Um ótimo design é invisível.
Um grande design funciona tão bem que nós nos esquecemos do grande esforço criativo que foi responsável por esse resultado.
Já um design ruim, é bastante obvio, pois ele incomoda muito ao ser usado. É bisonho, difícil e complexo. É uma grande ironia, mas é muito mais fácil reparar em um design ruim, do que em um bom. - Simplicidade é o supra-sumo da sofisticação
Como disse Saint Exupery, “um designer sabe que atingiu a perfeição, não quando não há mais nada para adicionar, mas quando não há mais nada para ser retirado.”
Simplicidade é saber o que manter e o que jogar fora... isso acontece como mágica quando funciona, porque nenhuma complexidade é transferida aos usuários.
Isso me fez lembrar um interessante texto com título "Simples, Lógico, Possível" do Edward De Bono, que deveria ser adotado por todos governantes e desenvolvedores de interfaces:
SIMPLES, LÓGICO, POSSÍVEL
"...Sugiro que cada país tenha um Instituto Nacional da Simplicidade, que se transformaria em um órgão de referência. Se o governo propusesse novas regulamentações esse órgão poderia dizer: ´São complicadas demais, é preciso deixá-las mais simples´. Desse modo, haveria algum defensor da simplicidade, assim como temos organismos defensores dos animais e outros..."
Edward de Bono é um estudioso dos processos do pensamento e notabilizou-se pelo conceito de “pensamento lateral”, difundido com muito sucesso no mundo inteiro. Escreveu mais de meia centena de livros.
3 comentários:
Sem palavras. Esse foi sem dúvida uma das melhores postagens que já li sobre design de interfaces. Não bastasse a qualidade do texto, ainda é acompanhado por excelentes citações.
Parabéns Horácio.
Concordo plenamente com o Ederson!!!
Carta aberta a Joshua Porter:
Olá meu amigo Porter,
Li com atenção a sua opinião no bokardo.com, e deixe-me dizer-lhe que, embora concorde consigo em alguns pontos, há outros que discordo.
Ora bem, e começando pelo início, “A tecnologia serve ao Homem”.
Pois claro, estamos de acordo.
O ponto em que não concordo é o seguinte:
Nunca vi ninguém culpar-se a si próprio pelos erros de software ou hardware em qualquer parte, e/ou em qualquer acção como menciona no seu texto! Se um computador avaria a meio de um trabalho importantíssimo, quem o estava a usar nesse momento (utilizador) não vai desancar nele próprio e chamar-se de burro e outros nomes. Claro que não vai julgar que foi por ter feito 3 cliques no rato que o computador reiniciou. Não. A primeira coisa que essa pessoa irá fazer é, dar um belo pontapé no computador e praguejar logo de seguida com quem quer que o tenha inventado! Não temos dúvidas nisso. É normalíssimo que, quando junto de algum entendido de informática, algumas pessoas por possuírem menos conhecimentos e procurando ajuda na resolução de pequenos problemas, se auto-insultem como sugere. Mas é uma situação pontual, devida ao facto de se sentirem inferiores (em termos de conhecimento/formação) em relação a pessoa ao seu lado.
É portanto, falta de formação, ou se preferir, falta de adaptabilidade do utilizador em relação ao objecto. Podemos falar de computadores, carros, telemóveis ou até torradeiras. É sempre o mesmo problema.
Poder-lhe-ia dar o exemplo do meu professor da cadeira de Teoria do Design, que muito lutou para conseguir ter a torradeira que desejava. Um modelo antigo pois aquele que possuía (mais moderno) não funcionava bem. Também aqui vemos que o problema é de adaptação do utilizador ao objecto. Torradeiras com temporizador foram criadas para facilitarem o acto de fazer torradas. No entanto, o erro que está nessa tecnologia empregue é a falta de previsibilidade de uma série de factores que vão influenciar o facto do pão em (por exemplo) 30 segundos, ficar queimado, bem torrado, ou completamente normal/não torrado. Para a torradeira ser precisa e hipoteticamente perfeita, teria de conseguir medir todos esses factores como a temperatura ambiente, a humidade relativa do ar, a temperatura do pão, a composição e humidade do mesmo (se é que não me esqueci de nenhum). Aí, já é o utilizador que tem de se adaptar a estas falhas da torradeira e conseguir que ela funcione bem, apenas com os comandos e variáveis que a tecnologia empregue lhe oferece.
Podia dar-lhe muitos mais exemplos.
Mas voltando ao início, eu também nunca vi tecnologia que não servisse ao Homem. É para isso que é criada. Se há erros? Claro. É para isso que há evolução.
Nem o Homem é perfeito. É mais uma máquina que se vai aperfeiçoando, aliás, adaptando, às exigências do meio social, cultural, ambiental, etc., e vai-se adaptando também, à tecnologia que ele próprio cria, para melhor se adaptar a essas exigências. A tecnologia serve o Homem, para isso foi criada, sempre serviu, e sempre servirá. Criada pelo homem para lhe facilitar a vida na terra, obriga também o Homem a moldar-se à própria tecnologia, que a vai moldando a si próprio, sempre numa eterna relação simbiótica.
Podemos conferir simbiose:
“Simbiose é uma relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes. Na relação simbiótica, os organismos agem activamente (elemento que distingue “simbiose” de “comensalismo”) para proveito em conjunto mútuo, o que pode acarretar em especializações funcionais de cada espécie envolvida. A Simbiose também é chamada de protocooperação.”
Fonte wikipedia
No entanto, no segundo ponto, em que o meu amigo define Design como uma não arte já me deixa um pouco de pé atrás.
Comecemos por definir design através da etimologia da palavra:
Design: from Anglo-French & Medieval Latin; Anglo-French designer to designate (pt: designar), from Medieval Latin designare, from Latin, to mark out, from de- + signare to mark.
Designar: apontar; assinalar; significar; nomear;
Como substantivo pode ser: a mental project or scheme in which means to an end are laid down.
Ou seja, um projecto ou esquema mental, no qual, os meios para atingir um fim são estabelecidos.
Fonte: http://www.m-w.com/dictionary
Então porque toda a gente confunde design com desenhar?
E então o que é o design?
Bem, para mim, as palavras de Charles Eames, já em 1969, davam-nos uma muito boa ideia de design, que se poderá aplicar a qualquer um dos inúmeros “designs” de hoje em dia.
Dizia ele:
“ Design is a plan for arranging elements in such a way as to accomplish a particular purpose.”
“Design é uma maneira de organizar elementos, de tal forma que permita realizar um determinado objectivo.”
E também ele deu uma brilhante resposta, a minha preferida, quando lhe perguntavam:
Quais são as fronteiras do design?
Ao que ele respondeu:
Quais são as fronteiras dos problemas?
Já Ineke Schwarz diria que o design significa, dar forma ao mundo construído pelo Homem.
Até aqui tudo bem. Nada do que foi descrito em cima, vai contra o que o meu amigo diz, apenas o sustenta.
Mas voltemo-nos agora para a arte.
O que é a arte? (Aí está uma pergunta tão temida por tantos)
Será arte as pinturas no Louvre?
Será arte as gravuras rupestres?
Serão arte as obras de um artesão?
Será arte a arte do pasteleiro?
E porque se diz “a arte do pasteleiro”?
Que significa esta palavra, tão curta mas que tanto significado parece ter?
Ora bem, o Dicionário da Porto Editora define-o assim:
Arte, s.f. conjunto de processos pelos quais se atinge a realização do Belo; ofício; profissão; modo; forma; habilidade; astúcia.
Quer dizer… talvez o tenha deixado mais confuso, certo?
Será que houve erro na impressão do dicionário?
Então, arte é o processo, ou conjunto de processos, para se atingir o Belo (também esta pequena palavra nos traria muito mais que conversar), mas no entanto também a equipara com ofício, profissão, etc.
Então será arte a cirurgia plástica?
Será arte a do varredor de ruas e limpa sarjetas?
Serão arte as fintas do Cristiano Ronaldo?
Será arte a do soldado contratado de metralhadora em punho?
Porque não se todos eles procuram o Belo (seja qual for a definição de Belo que cada um deles julga)? Todos eles procuram, como dizia Eames, organizar/designar/apontar elementos de modo a atingir um objectivo.
Então Eames não falaria de design apenas, mas sim da arte!
E a wikipedia define-a deste modo:
Arte (Latim ars, significando técnica e/ou habilidade) normalmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética (beleza, equilíbrio, harmonia, revolta) por parte do ser, feita com a intenção de estimular os sentidos humanos, bem como transmitir emoções e/ou idéias.
Mais confuso ainda?
Fácil.
Meu amigo Porter, a arte não se define por um conjunto de palavras colocadas por alguém num dicionário, livro, ou artigo de opinião. Arte é fruto de um processo sócio-cultural e depende do momento histórico em questão, variando bastante ao longo do tempo. Longe vai o tempo em que os “artistas” seriam os pintores e escultores.
Arte é agora também dança, é teatro, é música, tanto quanto é, arquitectura e design entre muitos outros.
Não entendo as suas palavras quando me diz que, “Pouco interessa o que os observadores fazem, a sua actividade não é um requisito, apenas a sua apreciação. O exercício da Arte não os exige. É uma actividade necessária para o artista, e só para o artista.”
Então mas se depois me fala num tal de Miguel Ângelo… deixa-me confuso…
Quem foi esse senhor?
Então esse senhor criava as obras por espontânea e livre vontade sem se importar com a actividade dos observadores?
Sobre o Juízo Final desse mesmo autor fica a saber que o trabalho fora encomendado pelo Papa Clemente VII, mas só com a morte deste teve início, já no pontificado de Paulo III, que ratificou o contracto.
Pois se a obra foi encomendada, não teria Michelangelo Buonarroti que haver em conta, o local e a actividade dos observadores da mesma?
Só se, o meu amigo quiser descategorizar o Juízo Final do título de obra-prima de arte!
Não nos percamos pois.
Design é arte.
Como arte que é, tem um meio, um ou variados suportes, para atingir um fim.
O fim do Design de Comunicação (web design, design gráfico,etc) é um, o do Design de Equipamento é outro que por si, difere do da arquitectura e ainda mais do objectivo da pintura.
A arte do design será, em sentido mais lato, facilitar a vida ao Homem na terra fornecendo-o de utensílios que lhe permitam utilizar da tecnologia existente, facilitando a tal simbiose homem/máquina.
No terceiro ponto do seu artigo, estamos a meu ver, de acordo.
A experiência pertence sempre ao utilizador e é ele que determina se o objecto criado, reflecte todas as suas necessidades ou não. Ao designer cabe o papel de, recolher essas experiências e analisá-las de modo a permitir ao utilizador, novas e melhores experiências.
Quanto ao bom design ser invisível já não é bem assim.
Estamos a falar de que design? Qual deles?
Como web designer provavelmente falará desse ramo, mas no texto menciona a colher, a qual podemos atribuir ao design de equipamento.
Mas pergunto:
Quem foi o designer que inventou a colher?
Bem, voltávamos atrás à antiga discussão entre artista e artesão.
Deixemos essa para depois.
A meu ver, há design invisível, e design visível.
A colher, é design invisível. Se for visível, algo de estranho, fora do normal, se passa. Mas também não podemos dizer que seja um bom ou mau design. Aliás, basta percorrer um catálogo de fabricantes de talheres, ou de outro tipo de objectos de cozinha (da Bodum por exemplo), para perceber, que só pela estética utilizada, são peças que “saltam à vista” e apetecem comprar. E digo-lhe desde já, que funcionam bem.
Bom design também é visível.
Há que ter em atenção é a funcionalidade nunca se perder em detrimento da estética, principalmente se o objectivo for comunicar algo, ou facilitar uma acção.
Eu diria que uma função bem concebida deve ser transparente (invisível), mas de novo, design e arte, a função e a forma, estão interligados. Apercebo-me de que se refere ao web design ou design em imagem, mas uma vez que o meu amigo pensa sobre a concepção dos produtos com interfaces virtuais embutidas (por exemplo o ipod), então deve ter em conta aspectos de design industrial. As pessoas gostam do ipod, em parte porque é esteticamente agradável.
Quanto à simplicidade ser a maior sofisticação, também já não acho que seja assim.
A simplicidade é relativa e maleável.
O design não deve ser reduzido ao mínimo denominador comum, mas ser maleável nas interacções que crescem em sofisticação, como cresce a tecnologia e a nossa compreensão do mundo que nos rodeia.
O Design não pode ser redutor ao ponto que, o Homem não possa tirar completamente partido do objecto de design em toda a sua extensão.
Para mim, afinal, o bom design precisa de dois pontos apenas:
- Facilitar a simbiose homem/tecnologia/mundo
- Criar emoções (tal qual uma pintura de Van Gogh) não esquecendo o fim a que se propõe.
Um abraço do seu amigo,
Henrique Patrício
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